16 Nov 2023

Bizfeira reuniu tecido empresarial no Europarque

Fórum debateu economia, tendo como pano de fundo a falta de recursos humanos especializados

Subordinado ao tema Empresas Procuram Pessoas, o Forum Bizfeira reuniu no passado dia 9 de Novembro, no Europarque, empresas e oradores para esmiuçar problemas e soluções em torno da dificuldade actual de recrutamento de recursos humanos. A acompanhar o debate, uma mostra daquilo que de melhor se faz em Santa Maria da Feira em termos gastronómicos.

Foi perante várias centenas de participantes que Emídio Sousa, presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da feira deu as boas-vindas aos presentes. O autarca, que garantiu ser um presidente de Câmara realizado, começou por agradecer aos empresários por fazerem da região um dos motores da nossa economia. Emídio Sousa passou em retrospectiva os últimos 10 anos e salientou a conquista do pleno emprego em Santa Maria da Feira. Reiterando a aposta no desenvolvimento económico e no emprego, o chefe do executivo feirense lembrou as 16 mil empresas, dos vários sectores, instaladas no concelho e a captação de cerca de 500 milhões de euros em investimento.

Emídio Sousa defendeu que Portugal não precisa de esmolas, mas de condições para que o tecido empresarial possa desenvolver em pleno a sua actividade.

Camilo Lourenço, analista de economia, foi o moderador convidado do Fórum que, segundo o próprio, serviu para celebrar empresas. A abrir o painel Empresas Procuram Pessoas, David Ferreira, director de staffing & inhouse na Randstad, apresentou dados sobre o desemprego e apontou caminhos para a resolução da problemática actual que é a falta de recursos humanos especializados.

Rafael Campos Pereira, vice-presidente da direção e do conselho geral da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, começou por falar sobre a transição digital e energética, e João Cerejeira, Professor auxiliar na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e investigador colaborador do Cl- PES - Centro de Investigação em Políticas do Ensino Superior, centrou-se na centralidade da questão fiscal, lembrando que a maior parte da fatia do resultado financeiro das empresas vai para o Estado. O também investigador do NIPE - Núcleo de Investigação em Políticas Económicas e Empresariais, afirmou que o IRC (Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas) se tornou um imposto progressivo que prejudica, em muito, as empresas. João Cerejeira sugeriu a diminuição da taxa nominal do IRC e a eliminação das barreiras de entrada e saída às empresas.

Isabel Cipriano, presidente da direção da APOTEC - Associação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade, lembrou, na sua intervenção, a necessidade da existência de uma cultura empresarial na sociedade e apontou Santa Maria da Feira como um excelente exemplo. A contabilista certificada entende que a fiscalidade é a mãe de todos os problemas em Portugal e explicou que é muito difícil a um empresário aumentar salários quando, 23% da massa salarial é retida para a Segurança Social. Isabel Cipriano falou mesmo em voracidade fiscal.

Rafael Campos Pereira lembrou a subida de 47% da despesa do Estado e não poupou nas palavras para caracterizar a política fiscal portuguesa: Há um conjunto muito pequeno de pessoas e empresas que sustentam tudo isto. Temos um modelo imobilista, assistencialista que promove a emigração., afirmou. O vice-presidente da CIP disse ainda não haver políticas de incentivo de crescimento às empresas e acusou a fiscalidade nacional de ser imprevisível e opaca.

Campos Pereira tocou no controverso tema da imigração, referindo os 345 mil imigrantes que entraram em Portugal recentemente, e deixou conselhos: É bom acolher, mas é preciso saber para que sector económico vamos direcionar estas pessoas. A verdade é que o Estado, nomeadamente o IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional), não fala com as associações e confederações empresariais.

Luís Marques Mendes, agendado como um dos oradores do Bizfeira, não pôde estar presente devido ao caos político em que mergulhou o país na passada terça-feira. Presente no Conselho de Estado, Marques Mendes fez-se substituir por uma mensagem vídeo onde considerou Emídio Sousa um autarca exemplar" e Santa Maria da Feira um concelho modelo. O comentador político alertou para a necessidade de aprender a viver num clima de incerteza e instou os empresários a continuarem a trabalhar, investir e exportar. Sobre o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o Portugal 2030, Marques Mendes considerou-os mal desenhados e disse haver Estado a mais e empresas a menos. O ex-ministro dos Assuntos Parlamentares alertou para o facto de Portugal estar viciado em fundos europeus e deixou conselhos aos empresários nacionais: Apostar na profissionalização da gestão e organização das empresas e investir na transição digital. Nunca fomos nem nunca seremos um país irrelevante, concluiu.

Devido a situações inesperadas, Jorge Amado, ministro da Defesa e Ordem Interna de São Tomé e Príncipe, substituiu Patrice Trovoada, primeiro-ministro daquele país africano que tinha presença marcada no Fórum Bizfeira. Jorge Amado reforçou a ideia de cooperação entre o concelho feirense, Portugal e São Tomé e Príncipe. Ficou formalmente registada a vontade de estreitar os laços de amizade e de partilha de boas práticas entre ambos os países. Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa, e Paula Arriscado, diretora da Divisão Corporativa, Pessoas, Marca e Comunicação do Grupo Salvador Caetano, integraram o segundo painel do Bizfeira para falar sobre O que estão as empresas a fazer para atrair e reter pessoas?.

Ricardo Costa começou por apontar a falta de investimento nacional na ferrovia, sobretudo naquela que nos liga ao resto da Europa, e revelou que Portugal é o país de OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) com maior disparidade de formação entre trabalhadores e empregadores. O também presidente da Associação Empresarial do Minho falou da necessidade do investimento em formação e requalificação e considerou que o maior capital das empresas são as pessoas.

Paula Arriscado falou da realidade do grupo português e na aposta massiva que este tem feito na formação dos seus quadros.

A terminar a edição do Forum Bizfeira 2023, Paulo Portas, que dispensa apresentações, falou sobre As tendências em Portugal, na Europa e no Mundo. Começou por repescar o tema da impressibilidade na economia e na geopolítica e afirmou que os factos são mais importantes que as previsões, dando como exemplo a grande surp-esa e o grande problema económicos de 2023: Estados Unidos e China, respectivamente. O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros avisou para a importância do turismo e da imigração em Portugal e teceu críticas à execução do PRR, por considerar que o Governo devia ter atribuído 2/3 ao sector privado e 1/3 ao sector público. O PS de António Costa fez exactamente o contrário.

Paulo Portas apontou ainda quatro fragilidades actuais da sociedade portuguesa: demografia; inovação; poupança e produtividade/competitividade.

Sobre o cenário internacional sublinhou três conflitos: Guerra no Médio Oriente; Guerra na Ucrânia e guerra tecnológica entre os Estados Unidos e a China.

A ocupar o intervalo e o final do Forum Bizfeira 2023, o Feira DHonra apresentou algumas das iguarias do território feirense. Numa demonstração do empreendedorismo e da criatividade de chefs e empresários locais, o Feira de Honra proporcionou aos participantes desta conferência anual de economia uma exoeriência gastronómica que faz jus à chancela atribuída a Santa Maria da Feira de Cidade Criativa da UNESCO na área da Gastronomia. O destaque foi, naturalmente, para as várias aplicaçãoes da fogaça, como foi o caso do tostadito de fogaça com cogumelos shitake ou a feirasinha.

Fonte: In, JN
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