01 Jul 2025
Américo Amorim, "Rei da Cortiça", erigiu um líder mundial
Dando asas à tradição industrial familiar, Américo Amorim foi precursor de um empresariado com apostos no mercado global. Criou a Corticeira Amorim insuflou dinamismo no setor e deixou um legado feito da vontade de aprender sempre e de sempre empreender
Américo Amorim era o "Rei da Cortiça", "título" que lhe foi atribuído em 1992 pela revista Forbes. Nascido em Mozelos, no concelho de Santa Maria da Feira, decorria o ano de 1934, trans- formou-se num dos maiores empresários portugueses de sempre.
Apaixonado pela geografia, exímio cultivador de relações diplomáticas e detentor de um raro talento para os negócios, fez da herança de 2,5 por cento de uma fábrica de rolhas fundada, em 1870, pelo avô, António Alves de Amorim, o maior grupo do setor da cortiça, que hoje é líder mundial.
O seu percurso empresarial, iniciado logo depois de terminado o Curso Geral do Comércio da Escola Académica, no Porto, ultrapassou condicionalismos industriais, crises económicas, diferentes regimes políticos, incontáveis barreiras territoriais e algumas revoluções dentro e fora de portas.
Segundo o "site" da Corticeira Amorim, esse trajeto forjou «uma personalidade vincada pela ousadia, pragmatismo e desassombro», para a qual «as viagens, o contacto com distintas culturas e a vivência de múltiplos hábitos, valores e costumes ocuparam um papel central».
Uma viagem a países europeus, feita em 1955, na companhia dos irmãos José, António e Joaquim, despertou no então jovem empreendedor «a crença plena numa economia liberalizada, livre de espartilhos e à escala global». Assim começou a edificação do maior grupo de transformação de cortiça do mundo. «Estudar é um bem precioso, mas o contacto com o mundo, com a diversidade dos continentes, a análise dos países, das culturas dos povos, a vivência dos valores, dos seus hábitos, é um enriquecimento para qualquer empresário», afirmou, já homem de negócios consagrado, certo de que «não há universidade que o substitua».
Também viajou pela América Latina, Europa de Leste e União Soviética, tendo visitado a superpotência comunista em 1958, em pleno Estado Novo, para ter um vislumbre de muitos aspetos da vida e da organização do gigantesco país. E ganhou conhecimentos e amizades, essenciais para abrir esse colossal mercado às empresas Amorim. Em paralelo, esta experiência revelou «a sua cultura de abertura, tolerância e audácia, quando o assunto era a cortiça».
A mesma postura deu, novamente, frutos anos mais tarde, quando, porque resoluções da ONU (Organização das Nações Unidas) visaram isolar Portugal nas áreas diplomática, comercial, marítima, aérea, militar e financeira, em reconhecimento da legitimidade dos movimentos de independência das colónias portuguesas, Américo Amorim decidiu fundar uma empresa na capital austríaca, Viena, a "Gerhard Schiesser, Ges.mbH", para servir de entreposto da cortiça destinada ao Leste.
O processo de internacionalização caminhava, então, a passos largos para uma velocidade cruzeiro, estabelecendo-se posições estratégicas, duradouras e progressivas no exterior. Mas, o empresário feirense perseguia, também, um outro objetivo: a expansão da base industrial, concentrando em Portugal todo o processamento da cortiça.
Também viajou pela América Latina, Europa de Leste e União Soviética, tendo visitado a superpotência comunista em 1958, em pleno Estado Novo, para ter um vislumbre de muitos aspetos da vida e da organização do gigantesco país. E ganhou conhecimentos e amizades, essenciais para abrir esse colossal mercado às empresas Amorim. Em paralelo, esta experiência revelou «a sua cultura de abertura, tolerância e audácia, quando o assunto era a cortiça».
A mesma postura deu, novamente, frutos anos mais tarde, quando, porque resoluções da ONU (Organização das Nações Unidas) visaram isolar Portugal nas áreas diplomática, comercial, marítima, aérea, militar e financeira, em reconhecimento da legitimidade dos movimentos de independência das colónias portuguesas, Américo Amorim decidiu fundar uma empresa na capital austríaca, Viena, a "Gerhard Schiesser, Ges.mbH", para servir de entreposto da cortiça destinada ao Leste.
O processo de internacionalização caminhava, então, a passos largos para uma velocidade cruzeiro, estabelecendo-se posições estratégicas, duradouras e progressivas no exterior. Mas, o empresário feirense perseguia, também, um outro objetivo: a expansão da base industrial, concentrando em Portugal todo o processamento da cortiça.
Criação da Corticeira Amorim
Em 1963, foi constituída a Corticeira Amorim, uns singelos 93 anos depois do arranque dos empreendimentos familiares em Vila Nova de Gaia e pouco mais de 40 anos após a constituição da Amorim & Irmãos em Santa Maria de Lamas.
O objetivo foi transformar 70 por cento dos desperdícios produzidos pela Amorim & Irmãos, derivados da fabricação de rolhas, em grânulos e, posteriormente, convertê-los em valiosos aglomerados, com os quais fosse possível produzir um conjunto de novas aplicações em cortiça.
Colocada a primeira pedra neste edifício de crescimento vertical, liderou, «com inesgotável energia», a abertura de uma unidade de isolamentos em Silves (Corticeira Amorim Algarve -1967), o estabelecimento de uma unidade de pavimentos (IPOCORK -1978) e a fundação de uma unidade de rolhas para vinhos espumosos (Champcork - 1983). Ainda no plano interno, acompanhou a construção de duas fábricas de preparação de matéria-prima, em Ponte de Sor e em Coruche.
Líder «incontestado» entre os seus mais próximos, sabendo «congregar numa única direção» as competências, os méritos e o "know-how" complementar dos irmãos José (floresta e aprovisionamento), António (gestão industrial e responsabilidade social) e Joaquim (relações exteriores), Américo Amorim promoveu, em 2001, a passagem de testemunho da presidência da "holding" Corticeira Amorim, indicando o sobrinho António de Rios Amorim como seu sucessor. Manteve-se durante bem mais de uma década como conselheiro da empresa.
Foi o primeiro português a quem o Conselho de Curadores da St. John University, de Nova Iorque, atribuiu o Doutoramento Honoris Causa. Por proposta do Governo, o Presidente da República António Ramalho Eanes entregou-lhe a comenda da Ordem do Mérito Agrícola e Industrial, na dasse de Mérito Industrial.
Líder «incontestado» entre os seus mais próximos, sabendo «congregar numa única direção» as competências, os méritos e o "know-how" complementar dos irmãos José (floresta e aprovisionamento), António (gestão industrial e responsabilidade social) e Joaquim (relações exteriores), Américo Amorim promoveu, em 2001, a passagem de testemunho da presidência da "holding" Corticeira Amorim, indicando o sobrinho António de Rios Amorim como seu sucessor. Manteve-se durante bem mais de uma década como conselheiro da empresa.
Foi o primeiro português a quem o Conselho de Curadores da St. John University, de Nova Iorque, atribuiu o Doutoramento Honoris Causa. Por proposta do Governo, o Presidente da República António Ramalho Eanes entregou-lhe a comenda da Ordem do Mérito Agrícola e Industrial, na dasse de Mérito Industrial.
«Se me fosse possível, fazia todos os dias uma fábrica», é outra das frases que espelham a sua determinação e o seu legado. Casado com Maria Fernanda Amorim, tiveram três filhas: Paula, Marta e Luísa. Américo Amorim faleceu no dia 13 de julho de 2017.
Um autêntico "ministro dos Negócios Estrangeiros"
Frequentemente identificado como um autêntico "ministro dos Negócios Estrangeiros", Américo Amorim colocou a sua capacidade agregadora ao serviço de toda a fileira da cortiça: foi presidente do pioneiro Grémio Regional dos Industriais de Cortiça do Norte, presidente da subsequente Associação dos Industriais de Cortiça do Norte e presidente da Confederação Europeia da Cortiça.
«Homem de ação, determinado e inovador», criou uma inédita Comissão de Publicidade, focada na competente promoção mundial do setor da cortiça português. E instituiu a prática sistemática de convites a delegações estrangeiras para visitas às florestas de sobro, às unidades industriais de transformação da cortiça e aos centros de investigação.
«Homem de ação, determinado e inovador», criou uma inédita Comissão de Publicidade, focada na competente promoção mundial do setor da cortiça português. E instituiu a prática sistemática de convites a delegações estrangeiras para visitas às florestas de sobro, às unidades industriais de transformação da cortiça e aos centros de investigação.
Fonte:
In, Diário de Aveiro