13 Fev 2017

Três coisas que tem mesmo de saber sobre a indústria portuguesa de calçado

Os sapatos portugueses deixaram de ser vistos como um sector condenado a desaparecer para ganharem estatuto de "caso de sucesso" e "indústria exemplar". É uma história que tem sido contada ano a ano, a partir dos resultados do calçado Made in Portugal, mas também deve ser enquadrada no mapa mundo, num ciclo longo, de 30 anos, com gráficos que ajudam a explicar a longa marcha desta fileira. Porquê? neste período, a quota da Europa na produção mundial de calçado passou de 34,1% para 3,8%, mas Portugal está a produzir mais 23 milhões de pares

Os últimos números da indústria portuguesa de calçado são frescos. Em 2016, as exportações do sector cresceram 3,2%, para 1,923 mil milhões de euros, ou 81 milhões de pares vendidos em 152 países. É o sétimo recorde consecutivo numa fileira que viu as vendas ao exterior aumentaram 58% desde 2009 e, apesar do abrandamento da marcha dos sapatos lusos (o crescimento em 2016 ficou nos 3,2%), contrasta com o desempenho negativo de outros produtores como Espanha (-7,8%), Itália (-0,9%) ou até a China (-12%).

No momento em que 97 empresas portuguesas apresentam as suas coleções ao mundo na Micam, de 12 a 15 de fevereiro, num contingente que abarca oito mil postos de trabalho e vendas ao exterior de 500 milhões de euros, há três coisas que é preciso saber para perceber o que mudou no mundo dos sapatos em Portugal e à escala global.


1 - A china Produz 59 em cada 100 pares

Em 30 anos, a deslocalização da indústria do calçado trouxe mudanças de fundo ao mapa mundo da produção. Entre 1985 e 2015, o número total de pares produzidos aumentou 160%, mas a quota da Europa caiu de 34,1% para 3,8%, enquanto a Ásia saltou dos 45,4% para os 86,8%, com a China a dominar confortavelmente, nos 59.1%.

Em Portugal, o trabalho para contrariar esta tendência promete a maior ofensiva promocional de sempre nos mercados externos, com a presença de 200 empresas em 60 ações divididas por 16 países ao longo de 2017. Ao mesmo tempo, com o apoio do programa Compete 2020, o sector lança a campanha "The Coolest kids in the World", focada no segmento infantil, que contribui com 125 milhões de euros e cinco milhões de pares para as exportações totais dos sapatos Made in Portugal e cresceu 42% nos últimos cinco anos.

Com um investimento na ordem dos 14 milhões de euros por ano na promoção externa, a indústria portuguesa do calçado tem, desde 2010. conseguido manter-se em terreno positivo nos seus 20 principais mercados, à exceção do Reino Unido, e cresce em novos destinos, da China (3108%) aos Emirados Árabes Unidos (608%) , Estados Unidos (461%) ou Austrália (363%).


2 - Portugal está a ganhar quota na produção europeia

No campeonato da produção, Portugal tem vindo a ganhar penso entre os principais concorrentes europeus e, apesar da debandada das multinacionais, em 30 anos, saltou dos 56 para os 79 milhões de pares. É um aumento de 41% que marca a diferença face a países como a Alemanha, Reino Unido, Itália ou França.

Em 1985, todos estes concorrentes produziam mais do dobro dos sapatos de Portugal, Em 2015, apenas Itália está à frente das empresas lusas, mas a cair 64%, o que abriu as portas à ambição de transformar a indústria nacional na principal referência internacional do sector, já assumida pela APICCAPS e traduzida em números no plano estratégico da indústria do calçado: a meta é exportar 2,5 mil milhões de euros no final da década e, para isso, deverão ser investidos 160 milhões em inovação, internacionalização e qualificação.

No emprego, este desempenho também tem reflexos. A indústria portuguesa de calçado criou mais de 9.200 postos de trabalho em cinco anos e reforçou o seu perfil de qualificação, uma vez que as empresas já têm 10% dos seus trabalhadores licenciados. Ao mesmo tempo, as multinacionais recomeçaram a interessar-se por Portugal e a investir no país. É uma tendência que começou em 2014 e já apanhou a Ecco (20 milhões de euros em Santa Maria da Feira), a Gabor (2,5 milhões de euros em Barcelos), a Ara (3 milhões de euros em Seia) e a Mephisto, agora a investir seis milhões de euros numa nova fábrica em Viana do Castelo.


3 - No preço médio por par, a aproximação a Itália é uma batalha para ganhar

O preço médio de exportação de um par de sapatos fabricado em Portugal, está nos 26,1 dólares (24,4 euros ao câmbio atual, ou 23,5 de acordo com a cotação considerada no estudo da World Footwear). Apoiada na criação de 350 marcas nacionais nos últimos anos, a subida na cadeia de valor é acentuada e já colocou Portugal no segundo lugar no ranking dos preços médios dos maiores produtores, mas Itália ainda duplica o valor dos sapatos lusos, com os seus 46,2 dólares/ par.

Será possível a indústria nacional ultrapassar esta diferença? "Claro que sim, se houver canseira e trabalho para isso. O nosso preço médio ainda é baixo em função do que produzimos", defende Fortunato Frederico, presidente da APICCAPS e da Kyaia, o maior grupo português de calçado. E nesta guerra, as armas a usar são várias, como prova a atenção dada ao mercado americano, onde o preço médio já passa os 35 euros,
O preço médio dos sapatos made in Portugal é de 23,5 euros
O preço médio por par fabricado em Itália é de 46,2 dólares, o dobro de Portugal


Fonte: In, Expresso
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