17 Abr 2024

Portugal 'descalça' Espanha e assume-se como segundo produtor de calçado na Europa

Dados atualizados do Eurostat mostram que, em 2022, saíram das fábricas portuguesas 85 milhões de pares de sapatos, mais dois milhões do que das espanholas, diz a APICCAPS.

A indústria portuguesa ultrapassou Espanha e assume-se como o segundo maior produtor de calçado na Europa, avança a associação do setor, em comunicado. A APICCAPS sustenta-se na atualização de dados do Eurostat, que mostram que, em 2022, saíram das fábricas portuguesas quase 85 milhões de pares de sapatos, dois milhões a mais do que das espanholas.

"Este é o resultado do investimento continuado do setor de calçado em Portugal, na definição de uma visão ambiciosa e em políticas públicas ajustadas, que permitiram ao setor reposicionar-se na cena competitiva internacional”, refere, citado no comunicado, o presidente da APICCAPS. Luís Onofre lembra que a fileira tem em curso, só no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, dois projetos de investimento de 140 milhões de euros, e sustenta que "independentemente dos ciclos conjunturais complexos, continuamos a acreditar no futuro da nossa indústria”.

Já Paulo Gonçalves, porta-voz da associação, explica que a APICCAPS tem procurado estudar como se tem comportado o setor face aos seus principais concorrentes, de modo a dar contexto à performance das empresas nacionais. Até porque, lembra, "podíamos estar a crescer 20% e a perder quota de mercado”. Não foi o caso.

Segundo os números da associação, com base no Eurostat, a produção em Portugal cresceu 14,4% na última década, passando de 74 para 85 milhões de pares. O que compara com um recuo de igual dimensão por parte da indústria espanhola, cujo fabrico recuou de 97 para 83 milhões de pares.

Itália mantém-se como o maior produtor europeu, embora esteja a perder terreno. Entre 2012 e 2022, a produção italiana encolheu 18,6% e ficou-se pelos 162 milhões de pares, distantes dos 199 milhões que fabricava uma década antes. No total, a produção de calçado made in Europe caiu 19,6%, passando de 617 milhões de pares em 2012 para 496 milhões em 2022.

"Infelizmente, diria, a produção na Europa tem vindo a cair significativamente e hoje significa menos de 3% da produção mundial de calçado. Os nossos dois grandes concorrentes, Itália e Espanha, têm vindo a perder protagonismo ano após ano, e o seu modelo de negócio assenta hoje muito mais numa estratégia de importação e exportação, e a produção própria tem vindo a cair”, refere Paulo Gonçalves, sublinhando que os dados de 2022 são os mais recentes disponíveis, embora acredite que a realidade de 2023 "não será muito diferente”.

Significa isto, segundo a APICCAPS, que a quota de Portugal na produção europeia se reforçou em quase cinco pontos percentuais, passando de 12,7% em 2012 para 17,1% dez anos depois. No mesmo período, Itália perdeu um quarto das suas empresas na fileira do calçado, Espanha perdeu 16% e Portugal 5%. Os italianos têm 6381 empresas registadas, Espanha tem 2808 e Portugal 2428, indica anda a associação, referindo que os três países em conjunto "são responsáveis por praticamente 70% da produção europeia de calçado”.

A comparação com Itália fica prejudicada pelo fator preço. É que se é verdade que Portugal tem, de entre os principais produtores de calçado na Europa, o segundo maior preço médio de exportação - 27,99 dólares por par exportado em 2022 -, não é menos verdade que Itália continua a reforçar o seu preço médio a um ritmo muito superior ao português. Em 2022, o preço médio do calçado italiano foi de 61,55 dólares.

"Não ignoramos essa evolução, é caso de estudo", diz Paulo Gonçalves, explicando que a associação encomendou um estudo a uma consultora internacional para avaliar o que está a acontecer nos mercados em especial no segmento de luxo.

"Não é segredo que queremos uma ser uma grande alternativa de mercado no calçado de luxo e estamos a posicionar-nos nesse sentido. Os investimentos que temos vindo a fazer, quer no FAIST quer no BioSHoes4All, vão permitir que nos reposicionemos na cena competitiva internacional, com novos materiais e uma nova geração de peles, mas também com investimento em tecnologia de ponta. O objetivo é que, quando o mercado recuperar, Portugal possa estar numa boa posição para aproveitar as oportunidades de negócio que seguramente surgirão", sustenta este responsável. 



Fonte: In, Dinheiro Vivo
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