29 Abr 2021

O futuro da Corticeira Amorim é mais verde: da aposta na mobilidade aos 10 milhões em energias renováveis

A sustentabilidade é um dos pilares estratégicos da Corticeira Amorim, ou não fosse a cortiça – um dos materiais mais amigos do ambiente – o principal elemento de todo o negócio. «Porquê usar um vedante de plástico se podemos usar uma rolha de cortiça, um produto natural, renovável e reciclável e cuja produção produz 10 vezes menos emissões de CO2?», questiona António Rios de Amorim, CEO da Corticeira Amorim.

Em entrevista à Executive Digest, o líder da empresa explica que a procura por produtos produzidos de forma sustentável tem aumentado, nos últimos anos, a nível global, alimentando também o investimento em novas possibilidades. Segundo António Rios de Amorim, o potencial da cortiça é quase inesgotável e ainda há diferentes aplicações para explorar.

Uma das mais recentes novidades no universo da Corticeira Amorim é o Corkeen, material utilizado para pavimentar o Parque Infantil do Centro de Interpretação do Monsanto, em Lisboa. Trata-se do primeiro recinto em Portugal que utiliza este sistema sustentável que garante superfícies amortecedoras de impacto para espaços de jogos, lazer e recreio.

Mas as novas apostas não se ficam por aqui: «A Corticeira Amorim está neste momento a explorar o potencial de utilização da cortiça nos setores da mobilidade e da energia», avança António Rios de Amorim, acrescentando ainda que «o recurso a energias renováveis traduzir-se-á num investimento de mais de 10 milhões de euros nos próximos quatro anos».

Acompanhe a entrevista na íntegra:

A aplicação de Corkeen representa uma nova área de negócio?

Sim, é uma nova aplicação e uma nova área de negócio. Mas, contrariamente às aplicações e aos produtos habitualmente desenvolvidos pela Corticeira Amorim, o Corkeen é um sistema que consiste na aplicação in situ de vários componentes, que exigem o seguimento estrito de um conjunto de regras e de normas de instalação. É um novo modelo de negócio que exigiu a constituição de uma nova empresa, que assenta numa rede de Brand Masters (franchisados), os quais representam a marca nessa região e assumem a gestão da rede de instaladores, em regime de exclusividade. Os Brand Masters Corkeen são empresas já com reconhecida experiência e elevado conhecimento técnico na instalação de parques infantis, e certificadas para instalar e dar formação do sistema Corkeen a instaladores no seu território geográfico.

Apresentada ao mercado em novembro de 2019, na Alemanha, na FSB, a maior feira do mundo dedicada a espaços públicos, desportivos e de lazer, esta empresa foi criada para dar resposta à crescente procura de materiais e soluções mais amigos do ambiente, que garantam qualidade e conforto, mas com elevada performance ambiental. A cortiça tem um potencial elevado no âmbito da construção urbana, reabilitação e áreas exteriores, como material natural, aliando ecologia e performance. E, nesse sentido, procurou-se desenvolver um pavimento que pudesse devolver o carácter orgânico e natural aos parques infantis, visto que nesta aplicação são comummente utilizados materiais sintéticos, como a borracha, com todos os problemas daí decorrentes.

Produzido com cortiça, uma matéria-prima 100% natural, reciclável e renovável, Corkeen é um sistema revolucionário que alia credenciais de segurança, sustentabilidade e acessibilidade. Desenvolvido de acordo com os princípios da economia circular, resulta do pleno aproveitamento de desperdícios da indústria da cortiça; a energia para a sua produção provém do uso de biomassa (pó de cortiça) e, no final do ciclo de vida, todos os materiais serão reutilizáveis.

É leve, inodoro e hipoalergénico. O sistema Corkeen possui ainda uma excelente capacidade de drenagem, consegue baixar a temperatura da superfície em mais de 20%, quando comparado com outras soluções sintéticas, e oferece um desempenho técnico de última geração em concordância com rigorosas normas de segurança (EN1176 e EN1177). À prova de intempéries, de fácil manutenção, imputrescível, ignífugo e elástico, reduz igualmente a propagação de microplásticos. É instalado no local como um sistema de duas camadas (uma camada base de absorção de impacto e uma camada superior à prova de desgaste), o que permite preservar as suas caraterísticas únicas, após anos de utilização.

Devido ao seu carácter inovador, a rede de Brand Masters Corkeen tem crescido muito rapidamente, em todo o mundo. Neste momento, o sistema Corkeen está já representado nos seguintes países: Portugal, Suécia, Reino Unido, França, Singapura, Malásia, Indonésia, Vietname, Tailândia, Filipinas, Myanmar, Laos, Camboja, Brunei, Holanda, Noruega, Dinamarca, Polónia e Nova Zelândia.

Que outras possibilidades de expansão da cortiça antecipam?

A cortiça tem um potencial quase inesgotável e, por isso, as possibilidades de expansão desta matéria-prima são infinitas. Para lá de todos os setores onde a cortiça tem já uma forte presença (indústria aeroespacial, pavimentos, construção, calçado, desporto, vinhos tranquilos, efervescentes e espirituosos, entre outros), a Corticeira Amorim está neste momento a explorar o potencial de utilização da cortiça nos setores da mobilidade e da energia.

No caso da mobilidade, as soluções desenvolvidas são aplicadas nos componentes de interior e nas partes estruturais dos mais diversos tipos de transportes, desde os automóveis, passando pelos comboios de alta velocidade aos autocarros. No que diz respeito ao setor da energia, a Corticeira Amorim está a desenvolver e a testar aplicações que possam ser integradas nas diferentes áreas de energia solar, energia eólica e também na área da mobilidade elétrica.

No geral, de que outras formas ficam visíveis as preocupações da Corticeira Amorim com a sustentabilidade?

A Corticeira Amorim trabalha de forma sustentável um material nobre que é oferecido pela Natureza, respeitando os ciclos normais de crescimento, procurando constantemente reduzir os seus impactos e usando as práticas da economia circular sem qualquer desperdício de matéria-prima. Contribuindo ainda para iniciativas de reciclagem nos cinco continentes.

Os esforços da Corticeira Amorim na promoção da gestão florestal sustentável, nas políticas de desenvolvimento florestal e na troca de conhecimentos com os produtores florestais são outros exemplos das preocupações da empresa em garantir que a extração cíclica da cortiça (de nove em nove anos) – para além de não danificar os sobreiros – gera emprego, potencia o progresso social e origina serviços dos ecossistemas para toda a sociedade. Nomeadamente, a regulação do clima, a regulação do ciclo hidrológico, a prevenção de incêndios ou a manutenção de uma vasta biodiversidade, etc.

Os produtos da Corticeira Amorim contribuem igualmente para a descarbonização de diversas indústrias. As rolhas de cortiça são o melhor vedante de vinhos tranquilos, efervescentes e espirituosos para os clientes que exigem melhor qualidade, ao mesmo tempo que querem contribuir para a regulação do clima. Já no caso do setor da construção, por exemplo, os produtos da Corticeira Amorim possuem certificação da qualidade do ar e contribuem para certificações de construção sustentável, tendo a inovação e a economia circular no seu epicentro.

Acrescente-se que o primeiro relatório de sustentabilidade da Corticeira Amorim reporta a atividade desenvolvida em 2006, dando início a uma comunicação regular e estruturada das políticas e práticas ambientais e sociais da empresa. Comprovando desta forma o compromisso de longa data com o reporte público e regular do desempenho em matérias ambientais, sociais e de governance. Demonstra também o alinhamento da Corticeira Amorim com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS).

Que metas têm traçadas neste âmbito?

Na obrigatória batalha contra as alterações climáticas, a Corticeira Amorim procura acelerar a transição para uma bioeconomia circular e, apesar do notável aproveitamento de 100% da cortiça, a empresa continua a trabalhar na melhoria da eficiência do uso da cortiça ao longo do processo produtivo. Seja desenvolvendo novas aplicações, seja adotando tecnologias, processos e fórmulas ainda mais eficientes. A Corticeira Amorim privilegia em todos os processos operações que não produzem aumento de emissões de CO2 e reforça o recurso a energias renováveis. De resto, o recurso a energias renováveis traduzir-se-á num investimento de mais de 10 milhões de euros nos próximos quatro anos.

O incremento da sustentabilidade dos materiais e da circularidade dos processos e a redução de emissões de CO2 dos resíduos e da poluição são também objetivos da Corticeira Amorim. A empresa foca-se não só no impacto da sua atividade, mas também no impacto na cadeia de valor. Assim, a Corticeira Amorim pretende continuar a aumentar quer o conhecimento sobre o impacto ambiental dos produtos de cortiça, quer o conhecimento sobre os ecossistemas que os mesmos produtos de cortiça viabilizam. Essa recolha pormenorizada de dados permite não só continuar a trabalhar na melhoria do impacto ambiental dos produtos e processos da Corticeira Amorim, mas também dos seus clientes ao fornecer informação relevante e quantificada sobre a contribuição ambiental dos produtos de cortiça.

Quanto à floresta, a Corticeira Amorim tem em curso o Projeto de Intervenção Florestal (PIF). Na verdade, a revolução está em marcha em 251 hectares de montado com irrigação na Herdade da Venda Nova, em Alcácer do Sal. Mais de 100 mil sobreiros plantados com recurso a rega assistida. Liderado pela Corticeira Amorim, o PIF ambiciona nos próximos dez anos incrementar em 35% a produção de cortiça em Portugal. Todavia, a ambição da empresa é ainda maior: alargar o conhecimento; ser o centro de excelência de investigação e desenvolvimento do montado; promover o montado e os serviços dos ecossistemas associados; e apoiar os produtores florestais através da partilhando de conhecimento.

No que concerne ao pilar social, a Corticeira Amorim definiu um Plano de Igualdade de Género com áreas prioritárias de intervenção para os anos subsequentes e com objetivos associados, desenhou um plano de formação para toda a população do universo Amorim, e estipulou que 2024 verá reduzida a zero a taxa de frequência de acidentes.

Quais consideram que são as principais dificuldades associadas à implementação de estratégias de sustentabilidade?

A sustentabilidade é um tema complexo e diversificado que combina eficiência, transparência e um equilíbrio entre três pilares: económico, social e ambiental. Uma vez que abarca um conjunto alargado de tópicos, um dos grandes desafios da sustentabilidade é priorizar, estabelecer o balanço adequado e definir estratégias sustentáveis eficazes. Estratégias, essas, que cada vez mais devem envolver todas as partes interessadas e mais educação sobre a sustentabilidade.

Um outro grande desafio está na construção de estruturas e mecanismos de gestão eficazes para agilizar e canalizar o compromisso de sustentabilidade: na criação de métricas claras; na implementação de ações concretas; e na observância de um desempenho mensurável. Pois, e apesar dos avanços significativos nos últimos anos, as métricas relacionadas com os temas da sustentabilidade estão ainda a nascer e nem sempre são fáceis de medir. Basta comparar, a título de exemplo, com as métricas financeiras. O caminho passará por assegurar a divulgação de informação mais objetiva, precisa e uniformizada para facilitar a comparação entre empresas.

Como é que a sustentabilidade impacta o negócio, em termos de percepção por parte dos clientes e de vendas, por exemplo?

Os materiais renováveis apresentam vantagens competitivas indiscutíveis e a sua importância crescerá à medida que avançamos em direção a um mundo mais sustentável. O desenvolvimento sustentável implica um modelo que promova a prosperidade e o bem estar de todos, proteja o ambiente e combata as alterações climáticas – a cortiça garante estes objetivos.

Porquê usar um vedante de plástico se podemos usar uma rolha de cortiça, um produto natural, renovável e reciclável e cuja produção produz 10 vezes menos emissões de CO2 (de acordo com um estudo da PwC comparando cortiça com um material alternativo)? Porquê não considerar o Top Layer NRT®94 da Amorim, um componente de cortiça de alta densidade para a indústria de pisos, que tem uma pegada de carbono negativa e usa 25 vezes menos recursos do que os materiais PET normais? Tudo isto enquanto estes produtos promovem paralelamente a existência do montado e os seus serviços dos ecossistemas (com valor superior a 1 300 € / ha / ano de acordo com estudo da EY em 2019) e garantem emprego em zonas áridas e semiáridas.

A crescente sensibilização das empresas e clientes para a importância de consumir, produzir e vender produtos que ajudem a mitigar os impactos das alterações climáticas e a promover uma transição industrial para uma economia de baixo carbono deverá permitir ganhos adicionais de quota de mercado da cortiça em comparação com materiais alternativos.

Notam uma maior procura por materiais sustentáveis como a cortiça?

Sim, a procura por produtos produzidos de forma sustentável tem aumentado globalmente nos últimos anos. Aliás, de acordo com um estudo da Nielsen, que entrevistou 30 mil consumidores em 60 países, as marcas de bens de consumo que demonstram um compromisso claro com a sustentabilidade superam aquelas marcas que não o fazem. Os resultados da Nielsen também indicam que os consumidores estão mais conscientes dos aspetos de sustentabilidade dos produtos e procuram, sobretudo, produtos e marcas que estejam de acordo com os seus valores pessoais.

A Corticeira Amorim encomendou os primeiros estudos sobre o montado e o impacto ambiental dos produtos de cortiça em 2008. Desde então, a empresa tem verificado que a percepção da importância da sustentabilidade mudou drasticamente. Mais do que ver estes estudos como "meros exercícios teóricos”, como provavelmente acontecia há 10 anos, os stakeholders da Corticeira Amorim compreendem hoje os méritos e a importância de ter à sua disposição informação sobre os impactes ambientais dos diferentes produtos para tomar decisões informadas. Nenhum colaborador, cliente, fornecedor ou acionista fica indiferente às conclusões destes estudos, nem à importância da cortiça para a construção de modelo de desenvolvimento sustentável.


Fonte: In, Executive Digest
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