18 Jun 2018

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

A tendência de venda de calçado em Portugal é o paradigma das mudanças que a sociedade tem vindo a sofrer. Os ténis casuais ganharam relevo nos últimos anos, num mercado dominado internamente pelas marcas desportivas internacionais. Para as fabricantes nacionais, a história é outra.

O novo estilo de vida que os portugueses estão, gradualmente, a adoptar, em que as preocupações ambientais e pessoais ganham mais relevo, está a alterar os hábitos de consumo no país. E a compra de calçado não é excepção. No ano passado, de acordo com dados da Euromonitor International, foram vendidos 4.2,9 milhões de pares de sapatos no país, com o segmento das mulheres a representar
quase metade deste número. Estas vendas representaram um valor global de 1,3 mil milhões de euros, um crescimento de 1,9% face ao exercício anterior.

O mercado português, pese embora o país seja o segundo maior exportador mundial de calçado, a seguir à Itália, é dominado pelas marcas importadas, com as desportivas à cabeça, seguidas pelas grandes retalhistas de moda internacionais.

A alemã adidas, que em 2013 tinha uma fatia de 3,4% do mercado em valor, alcançou a posição cimeira em 2017, com 15,5%, seguida pela americana Nike, com 7,2%, menos de metade. Ainda assim, o mercado permanece altamente fragmentado, com as retalhistas de
moda como a Inditex, dona da Zara, a ganharem terreno ao seguirem de perto esta tendência dos ténis casuais, aumentando a gama e, no geral, oferecendo-a a uma fracção do preço das marcas desportivas.

O calçado inspirado em desportos e o desportivo deverá manter-se como uma das maiores tendências até 2022, prevendo a Euromonitor que continuem a aumentar a popularidade e a ser usados em todo o tipo de ocasiões sociais, devido, em grande medida, aos novos padrões na mobilidade.

"Há mais projectos e programas de mobilidade sustentável, como a partilha de bicicletas e vias destinadas a velocípedes, particularmente em áreas urbanas. Os consumidores portugueses estão progressivamente a mudar o seu estilo de vida, com preocupações moderadas, mas crescentes, sobre práticas sustentáveis tanto em termos ambientais como pessoais, uma tendência que deverá continuar a acelerar durante o período previsto (2017-2022)." Esta é uma tendência que deverá continuar a beneficiar grandes marcas de desporto, principalmente a adidas, a Nike, a Puma e a New Balance", refere a consultora.

A resposta para este domínio das importações nas vendas internas, além da mudança das tendências da moda e do estilo de vida, reside nas redes de distribuição bem estabelecidas por estas marcas internacionais, mas também com a oferta das fabricantes nacionais no país, tanto ao nível de produto como de preço.

Segundo a Euromonitor Internacional, o custo médio por par importado para os consumidores finais em Portugal representa um terço do valor do calçado destinado a exportação. Isto porque as fabricantes nacionais têm uma aposta clara nas exportações, principalmente no segmento dos sapatos em pele. Assim, embora registe elevados volumes de produção, Portugal deverá ser dominado pelas marcas importadas, já que o calçado português continuará a ser mais caro do que o importado.

Vendas ao exterior
Só em 2017, o sector do calçado português exportou 83,3 milhões de pares de sapatos, no valor de 1,96 mil milhões de euros, o que representa um crescimento de quase 3% face ao ano anterior e o oitavo ano consecutivo de aumento das vendas externas. Este número significa, de acordo com a APICCAPS, a associação do sector, um novo valor histórico em termos de comércio externo. Embora o país exporte calçado para mais de 150 países nos cinco continentes, a Europa continua a ser o maior mercado, adsor- vendo mais de 80% das exportações.

Os dados facultados ao Dia 15 pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam que o mercado francês é o maior receptor mundial de sapatos fabricados em Portugal, com 15,9 milhões de pares avaliados em 419,5 milhões de euros, seguido pela Alemanha, com 15,3 milhões de pares, e 384,5 milhões de euros. Estes dois países têm um peso de 20,9% e 19,1% no valor das exportações globais do sector. O top três é concluído pelos Países Baixos, com 10,9 milhões de pares comprados, um valor de 280,8 milhões de euros, e um peso de 14%.

0 aumento da relevância do sector a nível nacional e internacional é justificado, em grande medida, pela dinâmica que as fabricantes portuguesas têm imprimido aos seus negócios nas últimas duas décadas.

De uma indústria tradicional e fortemente alicerçada em mão-de-obra intensiva, progrediu para "uma moderna e altamente competitiva", refere a APICCAPS. Além disso, "as empresas portuguesas mostraram grande resistência e dinamismo, com uma forte criação de emprego em anos recentes: de pouco mais de 32 mil postos de trabalho em 2010, a indústria do calçado concluiu 2017 com mais de 40 mil empregos. Durante o mesmo período houve uma criação líquida de quase 300 empresas", acrescenta a associação do sector.

A produção de calçado nacional está centrada principalmente nos municípios de Felgueiras e Guimarães, e Santa Maria da Feira, Oliveira de Azeméis e São João da Madeira - que juntos representam mais de três quartos do emprego no sector -, mas tem contribuído também para a criação de postos de trabalho no Interior do país. Segundo a APICCAPS, a falta de mão-de-obra qualificada nas regiões onde a indústria de calçado está concentrada levou à criação de mais de uma dúzia de unidades industriais no Interior, nomeadamente em Castelo de Paiva, Cabeceiras, Celorico de Basto e Paredes de Coura, contribuindo para um maior equilíbrio regional.

Aproveitar oportunidades
O sector de calçado português está atento a oportunidades no mercado.
São lançados regularmente novos projectos, para nichos. Um dos exemplos é a marca de calçado CR7, que está associada ao jogador de futebol Cristiano Ronaldo. Outras pequenas marcas estão também a emergir; ou estão associadas a clubes de futebol ou apelam a nichos na moda. 

De acordo com a Euromonitor International, "AsPortuguesas, um projecto conjunto da Kyaia - Fortunato 0 Frederico & Ca Lda e a Corticeira Amorim, é uma tentativa de capturar o sucesso dos chinelos brasileiros Havaianas, com um toque da tradição portuguesa. Ao invés de utilizar a borracha como material principal, AsPortuguesas usam cortiça como base do produto, tendo como principais mercados-alvo o Reino Unido e a América do Norte, os mercados mais fortes para o calçado produzido pela Kyaia".

Fonte: In, Dia 15 - Principla
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