29 Mai 2020

Moratórias mais longas? Prestação da casa pode subir quase 1% em janeiro

Moratória do crédito permite o alívio das prestações durante a pandemia, mas implica mais encargos posteriormente. No crédito da casa, a sua extensão até final do ano faz subir prestação em quase 1%. 

As famílias afetadas pela pandemia que recorreram à moratória do Estado, poderão vir a beneficiar de um fôlego adicional. Tudo aponta para que o Governo vá alargar até ao final do ano a moratória que permite a suspensão das prestações do crédito. Esse alívio extra terá, contudo, um custo que se irá refletir em encargos mais elevados finda a vigência desse regime. A retoma dos pagamentos, em janeiro, engordará a prestação da casa em cerca de 1% face ao valor pago antes da pandemia.

Quando o Governo anunciou a 26 de março a criação de uma moratória pública até final de setembro, tanto das empresas como da habitação, divulgou também um conjunto de simulações ilustrativas do alívio de encargos que a medida permitiria.

No que respeita ao crédito à habitação, assumiu como exemplo um financiamento de 150 mil euros por um prazo de 30 anos (dez dos quais já passados) indexado à Euribor a seis meses e com um spread de 1,5%. Um crédito com essas características teria associada uma prestação mensal de 495 euros aquando do anúncio da moratória, no final de março. A suspensão desse encargo durante o período da moratória iria permitir uma folga de 2.963 euros no orçamento.

Trata-se de uma margem financeira valiosa sobretudo para os agregados com maior perda de rendimento, como aqueles que se viram confrontados com a suspensão da sua atividade, entraram em lay-off ou ficaram mesmo no desemprego.

A simulação do Governo mostrava ainda o impacto sobre o valor da prestação teria quando fosse retomado o pagamento do empréstimo findos os seis meses. Com a capitalização de juros no total do montante ainda em dívida, o valor da prestação passaria a ser de 498 euros. Ou seja, um aumento de 0,6% face ao cenário anterior à pandemia que no cenário considerado corresponderia a mais três euros nos encargos mensais.

Alargar por mais três meses a moratória, até o final deste ano, eleva ainda mais o valor da prestação. Cálculos disponibilizados ao ECO pela Deco apontam para que, considerando o mesmo cenário do Governo, a retoma do pagamento da prestação em janeiro do próximo ano acarrete um custo adicional de 0,89% face à pré-pandemia, isto assumindo que a Euribor a seis meses não sofresse oscilações. No que respeita ao valor da prestação, passaria a fixar-se nos 499,32 euros, 4,32 euros acima dos encargos mensais anteriores à moratória.

A diferença no valor da prestação poderá ser muito curta, sobretudo tendo em conta a margem que dá às famílias em situação de emergência devido aos efeitos da pandemia. Os próprios bancos têm defendido a extensão do prazo das moratórias, temendo o efeito de uma escalada no crédito malparado que se lhes poderá suceder. Mas há o risco de muitas famílias não conseguirem fazer face aos respetivos encargos com a prestação.

Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da Deco, explica que a moratória e uma eventual prorrogação será uma medida positiva para algumas famílias, nomeadamente para aquelas que não tiveram uma perda abrupta dos seus rendimento. "Para as famílias que continuam a manter o seu trabalho, e que possam ter tido agora uma redução de rendimentos porque estiverem em lay-off, por exemplo, pode ter um impacto positivo na sua situação", explica a responsável da Deco, alertando contudo que para outras não será assim.

"Até agora foram muitas as famílias que perderam alguns rendimentos, mas temos muitas outras que estão a perder os rendimentos na totalidade porque ficaram desempregadas. Possivelmente, essas famílias não vão conseguir no curto prazo retomar os seus rendimentos", salienta. Natália Nunes lembra ainda a existência de muitas famílias com baixos rendimentos e com crédito à habitação. "Qualquer pequena alteração, nomeadamente na prestação do crédito à habitação, acaba por ter um grande impacto, mesmo que sejam quatro euros para essas famílias”.

Neste sentido, defende que, findo o período das moratórias, fará sentido "repensar todo o regime em vigor” e revisitar as medidas que foram adotadas em 2012 em plena crise financeira, relativamente ao regime extraordinário de crédito à habitação. "Simplesmente adiar o pagamento não será suficiente”, remata.




Fonte: In, Eco Online
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