11 Set 2017

Empresas do Norte lideram candidaturas aos vales 4.0

Secretária de Estado da Indústria revela que serão abertas, "em breve", novas candidaturas até 12 milhões de euros.

A maioria das candidaturas recebidas até ao momento no âmbito do concurso aos vales Indústria 4.0 são para o Programa Operacional Regional do Norte (Norte 2020), revela a secretária de Estado da Indústria, Ana Teresa Lehmann.

Em entrevista à "Vida Económica", a governante, em funções desde meados de julho, garante que a adesão das empresas a estes apoios "tem sido bastante positiva", tendo já sido registadas "221 candidaturas nos quatro programas operacionais". 

Mas este é apenas o primeiro aviso, com uma dotação de 4,2 milhões de euros dos 12 milhões disponíveis no âmbito da estratégia para a Indústria 4.0. O objetivo, assegura Ana Teresa Lehmann, é que sejam "abertas, em breve, novas fases para a parte remanescente da dotação total, até perfazer os referidos 12 milhões de euros".

Vida Económica - O Governo abriu as candidaturas aos vales indústria 4.0 até 29 de setembro. Que relevância têm estes apoios?

Ana Teresa Lehmann - A indústria 4.0 é uma grande prioridade para o Governo. Este conjunto de medidas vai mudar a forma como as empresas portuguesas se posicionam, apoiando a modernização e a adoção de tecnologia. Acredito que a quarta revolução industrial vai contribuir para que as empresas que necessitem de dar o salto para a modernização consigam fazê-lo com o apoio deste conjunto de medidas e que, em poucos anos, consigamos minimizar as assimetrias que existem atualmente no nosso tecido empresarial.

VE - Que adesão está a haver a estes vales indústria 4.0? Já tem uma perspetiva?

ATL - A adesão das empresas ao Vale Indústria 4.0 tem sido bastante positiva. Até ao momento contamos já com 221 candidaturas nos quatro programas operacionais e a maioria das candidaturas recebidas até ao momento são para o Programa Operacional Regional do Norte (Norte 2020). A expetativa é de que o número total aumente consideravelmente, uma vez que a maior parte das candidaturas surge já perto do final do prazo.

VE - Qual é o objetivo específico destes vales?

ATL - Estes apoios, cujo aviso foi publicado no início de agosto e tem a duração de um ano, visa atribuir vales até 7-500 euros a PME que pretendam adquirir serviços de consultoria para identificar estratégias para adotar tecnologias da Indústria 4.0. Em causa estão empresas que querem implementar sistemas de comércio eletrónico, melhorar a posição em motores de busca ou apostar em marketing. Também se destina a empresas que queiram processos como a realidade aumentada, 'big data' ou sistemas de inteligência artificial e ainda para a contratação de serviços de terceiros, como a assistência técnica. Em linhas gerais, o objetivo é apoiar a adoção de tecnologias que permitem mudanças disruptivas nos modelos de negócio de micro e PME.

VE - Que espectativa tem quanto aos efeitos destes apoios no tecido empresarial?

ATL - Estou convicta que será uma medida muito importante para a modernização e a competitividade da indústria e que vai ajudar muitas empresas a darem os primeiros passos no caminho da digitalização, tornando-as mais competitivas, inovadoras e internacionalizadas.

VE - E quanto à adesão das empresas, que expectativa tem?

ATL - Tendo em conta o número de candidaturas recebidas até ao momento, quando ainda falta praticamente um mês para o encerramento do concurso, esperamos uma grande adesão. No início do ano foi lançado um processo de acreditação para a prestação de serviços do Vale Indústria 4.0, que também teve grande adesão. Esperamos receber largas centenas de candidaturas, mas é prematuro, contudo, avançar dados concretos, já que o prazo do concurso termina apenas no final do mês e, tradicionalmente, o maior volume de candidaturas é recebido no final do prazo.

VE - Todas as PME de todos os setores de atividade se podem candidatar?

ATL - Todos os setores podem beneficiar de modernização e inovações tecnológicas que permitem tornar as empresas mais eficientes e competitivas. A aposta no digital e em sites' bem estruturados ou na implementação do e-commerce', por exemplo, permite às empresas a criação de montras para os clientes internacionais, o que leva a uma maior exposição e penetração em mercados externos, reforçando a componente de internacionalização, fundamental para o crescimento e criação de riqueza.

VE - O Governo apenas disponibilizou 4,2 milhões de euros do Portugal 2020 para apoiar a digitalização da economia, sabendo-se que, por exemplo, só o setor do calçado tem previstos investimentos de mais de 50 milhões de euros na indústria 4.0. Não lhe parece que os 4,2 milhões são insuficientes?

ATL - A dotação prevista para os Vale Indústria 4.0 é de 12 milhões de euros, segundo foi definido na estratégia para a Indústria 4.0, da qual esta medida faz parte. Estes 12 milhões de euros visam apoiar 1.500 empresas com um financiamento de até 7-500 euros. Este é apenas o primeiro aviso, com uma tranche de 4,2 milhões de euros dos 12 milhões de euros disponíveis. Esta dotação do FEDER está distribuída em seis programas operacionais e os incentivos são calculados através da aplicação às despesas consideradas elegíveis a uma taxa de 75%. No Programa Operacional Regional de Lisboa, os incentivos a conceder no âmbito deste aviso são calculados através da aplicação de uma taxa de 40% às despesas consideradas elegíveis. O objetivo é que sejam abertas, em breve, novas fases para a parte remanescente da dotação total, até perfazer os referidos 12 milhões de euros. Obviamente que não excluímos que possam existir novas oportunidades e linhas neste sentido, após realizada a devida avaliação.

VE - O Governo admite então rever em alta esse montante de apoios à indústria 4.0 e alargar também a base das empresas apoiadas?

ATL - Os Vales Indústria 4.0 são uma do vasto conjunto integrado de medidas no âmbito da estratégia para a Indústria 4.0.
Esta estratégia conta com vários instrumentos de financiamento para as empresas para investir em recursos para a transformação digital da economia. Está prevista a mobilização de fundos europeus estruturais e de investimento até 2,26 mil milhões de euros de incentivos, com os apoios disponibilizados através do Portugal 2020. Todos os setores podem beneficiar das novas tecnologias para otimizar o processo produtivo e a comercialização. Com a indústria 4.0 as empresas podem apostar na fusão de métodos de produção com os mais recentes desenvolvimentos na tecnologia de informação e comunicação, uma tendência impulsionada pela digitalização da economia e sociedade. Não há razões para nenhuma área de atividade ficar de fora da quarta revolução industrial.

VE - E para além destes apoios no âmbito da indústria 4.0, o que é que está previsto para apoiar as empresas?

ATL - Além da Indústria 4.0 queremos apoiar o financiamento e a capitalização das empresas para que estas possam crescer e reestruturar-se, através do Programa Capitalizar. A iniciativa vai ao encontro das prioridades do Governo: o relançamento da economia portuguesa, a criação de emprego, a redução do elevado nível de endividamento e a melhoria de condições de investimento das empresas. E a primeira vez que se faz uma reforma de fundo no modo como as empresas se financiam e capitalizam. Entendemos que estão criadas as condições para as empresas portuguesas poderem abraçar esta mudança económica e tecnológica, tornando a indústria portuguesa mais competitiva, mais inovadora e mais internacionalizada.

VE - Em entrevista à "Vida Económica" na última semana, o presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, defendeu uma reprogramação do Portugal 2020, de modo a redirecionar os fundos para as áreas estratégicas. As empresas e a digitalização da economia é uma dessas áreas?

ATL - As reuniões sobre a reprogramação do Portugal 2020 ainda estão a decorrer, pelo que é prematuro fazer comentários sobre essa matéria.

Apresentado programa de aceleração Bind 4.0 em parceria com o País Basco

Foi apresentada ontem, em Lisboa, no auditório da AICEP, a segunda edição do Programa de Aceleração Bind 4.0, uma iniciativa do Governo do País Basco, da AICEP, do IAPMEI e da COTEC Portugal e que tem como parceiros as empresas ABB, CAF Gestamp, Iberdrola, Mercedes-Benz, Michelin, Repsol-Petronor, Siemens, entre outras.

O Bind 4.0 é o primeiro acelerador que oferece acesso de alto nível a clientes de Indústria 4.0. Visa selecionar as melhores 'startups' internacionais no âmbito da Indústria 4.0 e proporcionar-lhes um programa de aceleração e desenvolvimento no ecossistema industrial basco. O programa resulta de uma parceria público-privada e tem a duração aproximada de seis meses. As 'startups' selecionadas têm a possibilidade de desenvolver projetos reais com 27 das maiores empresas industriais presentes no País Basco, aceder a aconselhamento e a 'mentoring' específico, dispondo para tal de apoios de ordem financeira e de possibilidades de financiamento.

Indústria 4.0 deverá injetar 4,5 mil milhões de euros de investimento nos próximos quatro anos

As PME nacionais vão poder candidatar-se até 29 de setembro ao primeiro aviso do concurso aos vales Indústria 4.0, no âmbito da estratégia do Governo para a Indústria 4.0, apresentada publicamente pelo Primeiro-Ministro, António Costa, a 30 de janeiro.

Essa estratégia prevê um conjunto de 60 medidas de iniciativa pública e privada que o Governo espera tenham "impacto sobre mais de 50 mil empresas a operar em Portugal" e que, numa fase inicial, "permitirão requalificar e formar mais de 20 mil trabalhadores em competências digitais". No âmbito das medidas Indústria 4.0, está previsto serem injetados na economia "até 4,5 mil milhões de euros de investimento nos próximos quatro anos".

Só o setor do calçado, por exemplo, tem em fase de finalização o Roteiro do Cluster do Calçado para a Economia Digital - "FOOTure 4.0". Em cima da mesa estão investimentos, alguns já em curso, no valor de 50 milhões de euros por parte das empresas de calçado nesta vertente. O primeiro aviso aos vales Indústria 4.0 agora lançado pelo Governo tem como objetivo "promover a definição de uma estratégia tecnológica própria, com vista à melhoria da competitividade" das empresas, alinhada com os princípios da Indústria 4.0. Trata-se de impulsionar a transformação digital através da adoção de tecnologias que permitam mudanças disruptivas nos modelos de negócio de PME.

Estes vales têm o valor unitário de 7500 euros e deverão apoiar mais de 1500 empresas, representando um investimento público de 12 milhões de euros. São critérios de elegibilidade dos beneficiários não ter projetos aprovados na mesma prioridade de investimento e, no caso do Vale Inovação/Indústria 4.0, não ter projetos aprovados na prioridade de investimento Qualificação PME". O incentivo é não reembolsável em 75%, com limite de 7.500 euros, sendo que está neste momento a decorrer o aviso 19/SI/2017 ao Vale Indústria 4.0 que permite a apresentação de candidaturas até às 19 horas do dia 29 de setembro.

Fonte: In, AICEP
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