29 Abr 2020

Empresa feirense termina com lay-off e volta-se para a produção de EPIs

A Albarrada Têxteis, empresa de indústria têxtil sediada em S. João de Ver, encontra-se a produzir equipamentos de proteção individual, desde batas hospitalares a máscaras e manguitos. Esta mudança na diretriz de produção da empresa surge após uma proposta efetuada pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira. Para a empresária da Albarrada Têxteis, Vânia Sousa, esta é a prova de que o país não tem necessidade de estar dependente do estrangeiro, nomeadamente da China.

Num momento tão atípico como o que o mundo atravessa derivado à pandemia de Covid-19, as mudanças acabaram por ser inevitáveis, surgindo uma adaptação à nova realidade portuguesa. A Albarrada Têxteis, empresa sediada em S. João de Ver, concelho de Santa Maria da Feira, é exemplo disso.

Vocacionada para a produção de jogos de cama, edredões, toalhas de mesa e produtos têxteis para o lar, esta empresa produz também durante o ano, batas hospitalares, calças e túnicas. Acontece que, com o surto de Covid-19, a Câmara de Santa Maria da Feira lançou à Albarrada Têxteis um novo desafio: produzir material descartável para o Hospital S. Sebastião. O repto foi aceite pela empresa de S. João de Ver, que tratou, de imediato, de operacionalizar a questão. "Não tínhamos material para produzir equipamento descartável, nunca produzimos, mas fomos procurar no mercado nacional o que havia disponível. Encontrámos um tecido que é passível de ser utilizado em ambientes hospitalares, impermeável, mas reutilizável – pode ser lavado a 180.º graus e fica desinfetado, pelo que as pessoas podem assim reutilizar e não há espaço para tanto desperdício. A Câmara gostou da ideia, o tecido foi aprovado pelo próprio CITEV e decidimos avançar com a produção de batas hospitalares. É o que estamos de momento a produzir em grande quantidade, quer para o hospital, quer para os lares do Concelho e IPSS’s”, adianta a empresária Vânia Sousa.

A empresa que se encontrava em lay-off desde o dia 1 de abril voltou a abrir portas para ingressar numa produção que não é a habitual, mas que neste período é a necessária, motivo pelo qual todos os funcionários aceitaram o desafio de bom grado. "Assim que entrei em contacto com todos os meus funcionários, mostraram-se prontamente disponíveis e disseram de imediato que sim, que vinham trabalhar, enfrentando o medo, que num período como este é inerente a todos nós. Mas estão todos bem-dispostos, ainda que seja difícil trabalhar com as proteções, porque não estão habituados”, conta Vânia.

Lençóis para as camas distribuídas no Europarque, bem como edredões e máscaras são também alguns dos produtos que a Albarrada Têxteis tem produzido, seguindo uma lista que tem sido emanada pela Câmara – a entidade que tem absorvido na totalidade a capacidade produtiva da empresa. "A nossa produção centra-se exclusivamente em EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual). Foi o desafio que a Câmara nos lançou e vamos agora dar início há produção de equipamentos com material descartável. Ainda assim, a maior parte da produção é neste tecido reutilizável, porque não há tanto desperdício e também porque o custo das matérias-primas subiu imenso. Neste sentido, ao nível ambiental e económico, utilizar um produto lavável e apto para o ambiente hospitalar é o mais vantajoso”, considera.

Num momento em que não consegue precisar a capacidade de produção da empresa pertencente ao Concelho de Santa Maria da Feira, dado que se encontram a gerir a produção em função da real necessidade, Vânia Sousa conta que, por esse motivo, nesta fase atípica não é fácil terem uma produção contínua. "Ainda hoje [quarta-feira] paramos a produção para produzir aventais descartáveis e manguitos, para colocar por cima das batas, para as pessoas que estão nos lares a fazer a higiene dos pacientes possam proteger as mangas. Como é a necessidade atual, a encomenda é para ser entregue já amanhã [quinta-feira], tivemos de reformular a produção estabelecida para o dia de trabalho”.

"É muito mais barato comprar material da China, mas não há essa necessidade

Mergulhada no meio das entregas e dos planos de produção, Vânia Sousa não tem dúvidas de que esta mudança provocada pelo novo coronavírus "é um bom momento para o país perceber que não podemos estar tão dependentes do estrangeiro, das importações”. E explica porquê: "Devemos perceber as nossas necessidades internas e, neste parâmetro, o Governo tem de dar apoio nesse sentido. Efetivamente é muito mais barato comprar material da China, mas não há essa necessidade. Sabemos que quantas mais empresas produzirem um bem, o preço de mercado desse bem vai diminuir. Se começarmos a ter em quantidade o produto disponível, não só para Portugal, mas também para podermos vender para outros países da comunidade europeia, vamos conseguir também ter preços mais vantajosos e diminuir a nossa dependência face ao exterior”.

De olhos postos no futuro, Vânia Sousa revela que este é um dos principais objetivos atuais da indústria têxtil, pelo que no meio de toda adversidade, crê que o novo coronavírus poderá provocar esta mudança positiva.


Fonte: In, Correio da Feira
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