14 Fev 2017

Calçado investe em novas unidades para acompanhar as exportações

Pelo sétimo ano consecutivo, as exportações de calçado cresceram. E as empresas estão a investir para crescer também

Com as exportações de calçado a cresceram pelo sétimo ano consecutivo, encerrando 2016 com novo recorde absoluto 81 milhões de pares de sapatos vendidos para os mercados externos num valor superior a 1,923 mil milhões de euros -, não admira que as empresas procurem adaptar-se a este novo ciclo de desenvolvimento. E os investimentos em novas unidades de produção ou na expansão das existentes é uma realidade crescente. Rolando da Cunha Melo, Ferreira & Avelar, Arcopédico ou Kyaia são, apenas, alguns dos exemplos.

Paulo Gonçalves, diretor de comunicação da Associação Portuguesa dos Industrias de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS) elogia a dinâmica de expansão do setor: "As empresas estão a ajustar a sua capacidade produtiva em resultado acréscimo de encomendas nos últimos anos. E estão-se a preparar já para uma nova onda de crescimento uma vez que o grande objetivo do setor é ser, cada vez mais, uma das grandes referências a nível internacional". E lembra que a meta estratégica traçada é conseguir que os mercados extracomunitários valham um quarto das exportações totais da indústria até 2025.

Mas a grande aposta da indústria centra-se mesmo na Europa e nos Estados Unidos."Temos vindo a afunilar a nossa estratégia para os segmentos de maior valor e, aí, temos uma visão pragmática. Cerca de dois terços dos potenciais clientes do calçado português estão na Europa e nos Estados Unidos e é aí que vamos centrar o nosso investimento. Sem esquecer apostas cirúrgicas em alguns mercados de elevado potencial, como a China, o Japão ou a América Latina, em especial a Colômbia, o Chile, o Panamá e o Peru", diz Paulo Gonçalves.

O investimento de promoção comercial externa do calçado, através da campanha The Sexiest Industry in Europe, é, este ano, de 14 milhões de euros, 95% dos quais destinados à presença de cerca de 200 empresas em mais de 60 feiras, como a Micam que este domingo arranca em Milão.

Nos Estados Unidos, o setor faz já duas feiras ao ano, Las Vegas e Nova Iorque, mas a APICCAPS assume que está a preparar a sua ofensiva comercial ao mercado a partir do próximo ano. "Não podemos abordar os 50 estados de uma vez só e, por isso, o que estamos a fazer é estudar, precisamente, que cidades devemos atacar prioritariamente. É esse plano de abordagem que está a ser afinado e entendemos que 2017, e em especial este primeiro semestre, será fundamental para definirmos, em definitivo, o que iremos fazer nos Estados Unidos no próximo ano", diz o responsável de comunicação da associação.

Refira-se que este é um mercado para o qual a indústria exportou já, o ano passado, quase 76,7 milhões de euros, quase 70% mais do que em 2014 e cinco vezes mais do que em 2011. "Hoje estamos muito melhor apetrechados para responder ao mercado americano. Temos produtos e empresas modernas, capazes de responder rapidamente aos desafios", garante Paulo Gonçalves. Até porque o mercado mudou, mas as empresas portuguesas também. "Há cinco anos tínhamos um grave problema de produto nos EUA porque 85% do que fazíamos é calçado em couro e mais de 95% do que os americanos compram são os chamados athletics. Hoje, mesmo as nossas marcas mais exclusivas, têm produtos dentro desta lógica do segmento mais desportivo, mais casual", explica. Qualquer encomenda colocada online, por exemplo, pode ser respondida e entregue no prazo de uma semana, assegura.

Profession Bottier avança no e-commerce

A Ferreira & Avelar, empresa detentora das marcas Profession Bottier, Avelar e PB White, terminou em dezembro o projeto de expansão da sua fábrica em Fiães, Santa Maria da Feira. Um investimento de um milhão de euros para "responder de forma mais rápida e eficiente" aos pedidos dos clientes e a novos projetos, diz Ruben Avelar. A empresa, que fabrica calçado de homem de segmento médio alto, espera, este ano, crescer cerca de 5% face aos seis milhões de euros faturados em 2016.

Dos projetos em desenvolvimento, destaque para a criação de uma loja online da empresa, um investimento estimado em algumas dezenas de euros, mas que não tem, ainda, data de inauguração definida. A empresa, que este ano comemora o seu 70º aniversário, marco que pretende assinalar com pompa e circunstância, acaba de renovar, por mais dois anos, o seu contrato de aluguer do showroom que tem em Paris. E cujas vendas têm crescido na ordem dos 12% ao ano, explica Ruben Avelar.

A Vinho Collection, uma coleção de sapatos com a incorporação de cortiça, é a mais recente aposta da Ferreira & Avelar que está já a vender este calçado para os Estados Unidos, Japão e Holanda. Se tudo correr bem, na próximo coleção contarão com três novos clientes deste produto, dois canadianos e um francês.

Kyaia antecipa plano de expansão

A Kyaia, o maior grupo de calçado nacional, vai antecipar, em cerca de quatro anos, o seu plano de expansão e ampliação das quatro fábricas que tem em Portugal, três em Paredes de Coura e uma em Guimarães. Duplicar a faturação e criar mais de três centenas de postos de trabalho numa década, ou seja, até 2024 era o objetivo inicial, anunciado em 2014, na comemoração do 30º aniversário da empresa. Para tal, a empresa iria investir um milhão de euros ao ano.

Afinal, o plano de expansão deverá estar concluído, o mais tardar, lá para 2020. "Estamos a adiantar-nos, de modo a aproveitarmos a conjuntura competitiva da construção nacional. Até porque hoje é mais seguro investir do que ter o dinheiro no banco", graceja Fortunato Frederico, fundador da empresa e presidente da APICCAPS. O gestor calcula que terá concluída a ampliação em Paredes de Coura até 2018. Este ano, lá para maio, pretende arrancar já com a construção de um dos quatro pavilhões que tem previstos para a unidade principal do grupo, em Guimarães. "Se tudo correr bem faremos dois este ano e dois no próximo", diz Fortunato Frederico.

O grupo, que em 2015 faturou cerca de 64,2 milhões de euros, 39 milhões dos quais na área industrial há ainda as lojas Fly London e cadeia de sapatarias Foreva -, estima que as vendas em 2016 tenham crescido, apenas, 2%, fruto do Brexit. "Se não fosse a quebra da libra teríamos crescido 6%", garante o empresário.

Na Micam, onde Portugal marca este ano presença com 97 expositores, a Kyaia conta, nesta edição, com três stands próprios. Além dos habituais para apresentar o calçado da Fly London e da Softinos, a marca de conforto do grupo, junta-se agora um terceiro stand, na zona da Mipele, a parte da feira dedicada aos artigos de pele, como carteiras, malas e afins. "Acreditamos que há um mercado próprio para as carteiras e vamos apresentá-las isoladamente. É um setor em que estamos a apostar numa fase mais madura", diz Fortunato Frederico. Quanto vale já esse segmento? "Os números não são, ainda, relevantes, mas temos a perceção que, se investirmos um pouco mais, poderemos crescer substancialmente", frisa.

Rolando da Cunha Melo

Com uma faturação de seis milhões de euros, totalmente destinados à exportação, a Rolando da Cunha Melo acaba de investir cerca de um milhão de euros na construção de uma nova unidade de componentes anexa à sua fábrica em Felgueiras. Tem, ainda, em curso investimentos na aquisição de novos equipamentos. Não porque pretenda aumentar a sua capacidade produtiva, diz Paula Melo, mas para "produzir melhor e com maior qualidade".

Fundada em 1963 e com 90 trabalhadores, a empresa familiar produz, atualmente, entre 500 a 600 pares de sapatos ao dia, de homem e senhora, no segmento médio-alto. Sair da Europa e apostar em novos mercados, como os Estados Unidos, o Canadá ou o Japão é o objetivo.

A empresa tem em França o seu principal mercado, que absorve cerca de 70% das vendas. Tudo com a marca própria da RCM, a Muratti. Aliás, a aposta em França tem já quase três décadas, altura em que a Rolando Cunha Melo abriu escritório e armazém em Paris, para "melhor servir o mercado". Holanda., Alemanha e Inglaterra são outros destinos atuais.

Números:
97 empresas
É o número de expositores portugueses que marcam presença na Micam, a maior feira de calçado do mundo que hoje arranca, em Milão, e que será visitada pelo ministro da Economia. Dão emprego a oito mil pessoas e asseguram mais de 500 milhões de exportações
23,74 euros
Foi o preço médio do calçado português exportado em 2016, um aumento de 14 cêntimos em cada par. No total, o setor exportou, o ano passado, 81 milhões de pares de sapatos no valor de 1,923 mil milhões de euros. Um aumento de 3% em valor e de 2,6% em volume.

Fonte: In, Dinheiro Vivo
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